Certa vez li sobre a história* de um homem que depois de muitos anos resolveu procurar seu professor. Esse homem havia sido seu aluno por muitos anos e pela inspiração de vida que aquele professor havia sido, seu aluno resolveu seguir alguns de seus passos, transmitindo assim muitos, senão todos os ensinamentos que havia ouvido e absorvido.
O professor estava ansioso pelo reencontro, depois de tantos anos longe do seu esmerado aprendiz.
Então marcaram no escritório daquele professor o tão esperado reencontro.
Assentado em sua cadeira estava o professor, e ao abrir da porta, entrando está seu aluno, agora um homem formado, casado e aparentando ter percorrido algumas milhas nesta vida.
Depois de gentilmente se cumprimentarem, com um bom sorriso no rosto, o simples professor pergunta:
- E então o que te trazes aqui?
Logo seu esmerado aluno abaixa todo seu corpo até o chão e retira de sua maleta um caderno. E ao abri-lo apenas uma frase sai de boca em meio as lágrimas que escorrem em seu rosto.
E tal pergunta soou: Por que você mentiu para mim?
( *Essa história foi sutilmente adaptada e resumida para facilitar o entendimento do texto abaixo.)
A história acima aconteceu entre um professor de bíblia e seu dedicado aluno dominical. No entanto, não devemos querer ouvir o que aquele professor ouviu, e talvez você me fale: "Mas não deu para entender o que a história em si quis transmitir." E eu te digo que tinha um propósito em não relatá-la por completo. A história é simples. Aquele professor havia passado um conteúdo superficial o chamando de profundo, havia repetido o que sempre escutou também, porém aquele aluno cresceu, desenvolveu, resolveu "cavar" e acabou descobrindo mais e mais coisas. Apesar de ser rápida, essa história reflete aquilo que eu não gostaria de ouvir daqui alguns anos e por isso tenho escrito textos que não são "afrontistas", "parciais", e ou "indutivos", mas sim textos que propõem uma melhor exposição do que comumente chamamos de Palavra de Deus.
Estou na caminhada cristã há algum tempo, e já ouvi, repeti, já ouvi e me calei por muitas coisas e pontos de vistas diferentes. Cresci aprendendo que existem outras linhas de pensamento e talvez seja por isso que ouvir outras formas de pensar não fira tanto o que eu creio. Talvez seja por isso que ouvir o ponto de vista de outras pessoas sem tentá-las impôr algo seja mais fácil para mim hoje.
Contudo não quero ouvir daqui alguns anos o que aquele professor teve que ouvir. Portanto, tenho me esforçado para aprender a transmitir um conhecimento sem que tenha o meu "consentimento teológico", pois tenho descoberto que a palavra de Deus por si só é suficientemente capaz de envolver o homem sem que tenha algum artefato colocado por mim. Tenho visto uma nova geração de pessoas que vão até as igrejas, salas dominicais e cadeiras de escolas bíblicas com uma sede e fome genuínas em busca do "conhecer" a Deus e por isso creio que se pode anunciar não um ou outro ponto de vista, mas sim a simplicidade da palavra aos ouvintes.
Não se pode ensinar para gerar guerreiros, ensinamos para gerar novos "mestres", afinal um guerreiro entra em constantes conflitos, enquanto o professor apenas se alegra em despertar o melhor das pessoas.
Creio que podemos ter igrejas onde as pessoas saibam o porquê de acreditarem no que acreditam, não por terem uma lista de versículos decorados e/ou pré-preparados para "balear" quem vier a frente.
Acredito em igrejas inteligentes, doutas e amorosas com suas palavras. Pois quando ensinamos as pessoas a entender o que creem em seus respectivos contextos (histórico, cultural e social), trazemos à essas pessoas a vida e significado que devem acompanhar o ensino que transmitimos.
Precisamos preparar as pessoas para entrarem convictos em conversas maravilhosas e desafiadoras que estão sendo propostas pela sociedade moderna, mas jamais sendo intolerantes; amorosas, mas nunca barganhadoras; com princípios, mas nunca empurrando ninguém ao precipício da culpa.
Assegurar as pessoas que estamos usando a bíblia como um cobertor em meio ao frio da vida, como ponte sobre o turbulento rio das emoções, como farol em meio ao gigante oceano chamado eternidade; e não como uma espada que fere ou como martelo que esmaga.
Urgentemente precisamos sustentar o que cremos com humildade mas sendo transmissores de uma boa reflexão teológica.
E assim finalizado com uma frase que veio em minha mente, e que ressalta algo desafiador:
" Que sejamos cautelosos para não usarmos erradamente, envenenar ou arruinar a beleza, e mesmo as ocasionais bizarrices, da bela e misteriosa e inspirada Palavra de Deus" - Dan Kimball